quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um outro tipo de mulher nua

Nunca vi tanta mulher nua.
Os sites da internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas.
O que não falta é candidata para tirar a roupa.
Serviu cafezinho numa cena de novela? Posa pelada.
É prima de um jogador de basquete? Posa pelada.
Caiu do terceiro andar? Posa pelada.
Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa, bastando pra isso uns retoquezinhos aqui e ali.
Dá uma grana boa.
E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê?
Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas.
Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos.
Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade - emocionalmente.
Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso.
É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história.
É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.
Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos - aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não boneca s de porcelana.
Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.
Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que esperava-se com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo - pra citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo.
Mas agora não há mais charme nem suspense. Estamos na era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na carreira. Até é. Na maioria das vezes, rumo à decadência.
Escadas servem para descer também. Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo.
Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro.
Não conheço strip-tease mais sedutor.

(Marta Medeiros)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Graças a Deus, tenho sede de você. Água é a melhor bebida.
O suco de laranja e o de manga merecem 100 pontos, assim
como um chope bem tirado no calor de fevereiro.
Um cappuccino antes de um filme de Woody Allen me leva a
Manhattan, mas nenhum desses líquidos mata a minha sede
feito a tua presença.
Existem vários tipos de sede. A paterna é indescrítivel, pois é o
apogeu do afeto incondicional, com a espécie humana podendo
exercitar o que tem de melhor por meio da entrega total e do zelo.
A espiritual, mesmo para quem duvida do Senhor, ajuda a
afastar as tentações (que não são poucas na vida).
A sede sexual, quando excessiva, pode matar ou levar ao psicanalista.
A cultural alimenta a alma e faz cócegas no intelecto.
A política, nós sabemos, pode corromper ou criar a
ilusão de eternidade no poder. A sede da onda perfeita faz o
surfista se aperfeiçoar e buscar os melhores picos do planeta.
A sede de ti tem um pouco de tudo que há na bondade.
Prossegue nas pequenas coisas do cotidiano, nas conversas cúmplices,
nas asas dos anjos que nos protegem, nos pulos
das gatas pelo apartamento, nos gritos das crianças
no playground, no sorriso bonito do teu filho, na fumaça que
espalhamos ao som de Matisyahu...
Você é um camarote confortável de Carnaval para o corpo se
agitar e um lugar calmo para o meu coração pousar na madrugada.
Um cais português de onde o navio parte e deixa
uma mãe saudosa, mas em paz, porque sabe que seu filho vai voltar.
Você é inspiração para uma nova canção de
Marisa, Carlinhos e Arnaldo.